segunda-feira, 16 de novembro de 2009

ânsia

Passos largos na calçada, atraso habitual.
Na cabeça pairam dúvidas que nem o tempo nem o espaço nem pessoa nem fantasma lhe reponderá, por mais que rogue. Manteiga que passa no pão, café bem doce pra acordar mais feliz.
Quase por um triz esquece de tudo pra ver o sol de mais um dia abafado. Lembra das contas, de amores, de dores de cabeça que lhe perseguem mais que a insônia nesses últimos dias. Vale a pena não pensar.
Vê gente estranha no caminho do trabalho e por instantes pensa em tomar seus lugares, seus lares, seus sonhos mais baratos em troca de um prato de respostas. Inútil, famintos estão todos nesse aspecto.
Ergue-se um muro de incertezas entre a razão e o que está posto à mesa: gente com fome, com sede, com dor, com muito, com pouco, com tudo, com o mundo na mão e a cara lavada. Liga o radinho que fica mais fácil abstrair o pensamento e distrair a visão.
Uma mulher rouba um pote de manteiga e vai presa. Antentados contra a ordem todo dia, baderneiros estes que tomam as ruas com manifestações subversivas! Um mundo todo com tudo acontecendo ao mesmo tempo...
Ela senta na cadeira e escreve coisas que jamais dirá ou publicará.
Tem vontade de rir e de chorar, pelo mundo, por seus pés.
Olha o cristo, de braços abertos! E as palavras, prontas pra servir de voz.
Gira na cadeira. Rotação num eixo incerto que é seu corpo.

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