quinta-feira, 20 de maio de 2010

Movimento

Andar pra frente, não por ser de hábito, tampouco por ser melhor.
Andar.
Jogar pros pés o que a mente imprime o tempo todo.
Não reafirmar na andança traços ou passos que brilharam - e ainda brilham- as custas de esforços de quem é oprimido por falta de consciência ou porque sim, se deixa oprimir.
O tênis fica gasto porém, nos mesmos lugares: no calcanhar, na parte de dentro.
Destravar os joelhos nas paradas, procurar um eixo que não é o de sempre, que não é o costume. Estar fora do equilíbrio sem tombar o corpo, sem pensar nisso fixamente a ponto de esvaziar a mente e o corpo.
Idéia por idéia fica pra depois, pra nunca, pra galáxia.
Feito por feito segrega e ameaça ser expressão corporal apenas.
Desconexão conectada, é possível tecnicamente, intelectualmente também.
Ser, estar, pensar, agir. Andar. Andar pra frente, sem que isso seja mais, ou melhor ou certo.
Andar é andar.
O frio é o frio, o vento é o vento.
O que meu olho vê, ainda que meio cego...
Andar pra frente , pra linha de frente. (que pode estar atrás)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Bom dia, Lética!

Lismo andou me procurando nos últimos tempos, mas tenho feito tanta coisa que não tenho tempo pra jogar conversa fora, achar tudo bonitinho, contar carneirinho antes de dormir. Que idéia Lismo! Sonhar neesa altura do campeonato!
Não sei bem se ele desisitiu de mim ou eu dele, o fato é que , recentemente, conheci um pouco mais alguém que eu só conhecia assim de vista, da fila do pão, do ônibus lotado, daqueles dias de fúria intermináveis!
Lética veio ao Parque Santo Antônio, acompanhada, lógico.
Num primeiro momento, quis dizer á ela tudo o que disse a Lismo, mas a deixei estar - e não ser.
Olá! - me disse ela, com sua aparência nova e velha, já nos conhecíamos, afinal.
Olá - disse eu, com minha aparência cansada e entusiasmada, foram uns dias de aproximação.
E por fim - ou será só o começo? - busquei minha voz mais forte pra lhe dizer, em alto e interno e intenso som: BOM DIA LÉTICA !

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Vermelho

POESIA: QUANDO OS TRABALHADORES PERDEREM A PACIÊNCIA

Por: Mauro Iasi(*)



As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
"declaro vaga a presidência"!


* Mauro Iasi é Professor da UFRJ e membro do Comitê Central do PCB (Partido Comunista Brasileiro)