quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O espetáculo não tem que continuar (parte I)

Em tempos de massacre espetacular, tempos de hegemonias novas que surgem com rótulos de revolução, tempos de pseudo fazedores de arte com mais discurso do que prática, tempos de uma maioria que paga a conta de poucos, tempos nossos de luta pelo pão, pelo amor e pela liberdade, falar em revolucionar pode traduzir uma utopia vã unicamente ou expressar o verdadeiro desejo de transformação.
É o tal copo meio cheio ou meio vazio. Tudo é uma questão de perspectiva, ou de sede mesmo. E calma. Muita calma. Calma esta que não está necessariamente ligada a apatia. Calma que vem do pensar e escolher como agir. Calma que conduz o pensamento à pratica e não a intermináveis reflexões vazias e anestésicas que terminam num ou noutro bar, num ou noutro aplauso ou copo vazio.
Sem braveza e com bravura, trilhar um caminhar que seja junto. Nem atrás e nem a frente. Ao lado. Lado a lado de fato no suor, no sorriso e na labuta. Com o povo e para o povo, sem dedos apontando horizontes que sequer fazem parte de fato do dia a dia.
Hoje, coletivos se formam e se estabelcem. Por escolha ou falta dela, os iguais se encontram e buscam de alguma forma, quebrar com padroes pre estabelecidos pela hegemonia. há no entanto, um inegavel embrutecimento de relações. Burocratizam-se sentimentos, empedram-se necessidades humanas como a ternura, a compreensao, o tal do ombro amigo em troca de punhos sempre cerrados, nao importa pra quem, em troca de reconhecer em qualquer um que diga o contrário do pressuposto da vez como inimigo mortal e cruel e servidor do sistema que se combate. Trava-se uma guerra com quem há pouco trocava-se um abraço sincero.
Qual é a medida do fazer revolucionário? Há concessão possivel e passivel de aceitação ? É mais revolucionário quem se embrutece? Menos aquele que vende sua força de trabalho por luxo e lixo?
E assim o espetáculo continua. Com rótulos de não capitalismo, de não isso e não aquilo. Com caras e bocas gritando, punhos cerrados e corações fechados. Coletivos hierarquizados por relações burocráticas, histórias descontruidas por incompreensão e cabeças completamente bitoladas em teorias lindas e bem fundamentadas que nunca sairão do papel.
A realidade que nos impõe o capital, sistema, que seja, já é dura e cruel e não será essa geração que verá a efetiva transformação ocorrer. Que isso não nos petrifique ou nos torne os reacionários mais nojentos da história, mas ao mesmo tempo, não temos o direito de nos nomear ou deixar que o façam, vangardas de nada. Façamos o que tiver de ser feito, com amor e afeto no peito suficientes para que a força de transformação de fato tenha espaço e direção certa.
Resgatar talvez uma acestralidade não muito distante, em que homens e mulheres de fato transformaram algo: a politica , a cultura... Talvez livros, peças, músicas que de fato nos trazem até hoje referencias de algo efetivo, algo que nos traz sabores de revolução. E pensar que nessa época recente nas terras tupiniquins, havia ainda afeto possível. Havia olho no olho, abraço sincero.
Não há revolução solitária. Não há transformação de uma parcela da classe oprimida. Não ocorrerá nada de realmente radical que seja fragmentado. De partes é feito o espetáculo. De fragmento em fragmento é formada esta sociedade desigual. A mulher, o negro, o artista periférico, o trabalhador estão no mesmo barco de opressão e prisão. Barco este que tem de remar junto, tem de vencer a tormenta capitalista pra que a terra prometida não seja mera utopia e sim conquista unificada de todas e todos.

Ainda há tanto por dizer. Por hoje penso assim.

6 comentários:

  1. De fato.. muita reflexao que nos cabe nesse nosso fazer. Como unir chão e céu sem perder a lucidez? Como nao perder a ternura.... talvez nao haja mesmo resposta.

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  2. Vixe.............. precisamos talvez rever os moldes de organização totalemte.

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  3. REVOLUÇAO HOJE É SOBREVIVER

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  4. Há de se colocar o coração para agir. Isso é ter coragem...
    Cansei desses subgrupos que se formam e andam mero km ou discutem apenas virtualmente, que lutam contra outros subgrupos.. esses ciclos que se seguem e que não findam.
    Enfim, há de se ter amor e agir com ele, isso é ter coragem!

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  5. Muita ilusao quem pensa ser revolucionario fazendo e acontecendo com o bolso cheio, com a mesa farta.... facil criticar e encher o saco alheio quando nao se esta sofrendo as mazelas da opressao na pele. Valida reflexao pra todos nos que pensamos atuar com o povo. O que eh mesmo necessario pra comunidade: O que eh mera vaidade nossa? quase tudo...

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  6. Certamente nao tem que continuar esse show de horrores. Vaidades eego nao tem de passar por cima do verdadeiro companheirismo. Nao é mais admissivel perder companheiros e companheiras por conta de vis comportamentos egoistas e reprodutores do capitalismo que se diz combater. A quem cabe a critica, que a faça abertamente.

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